Fase de instrumentação

O processo de instrumentação na PCA é detalhado e exige atenção a cada etapa, desde a escolha do espaço físico e dos participantes até a coleta de dados e a condução dos Grupos de Convergência.

As técnicas aplicadas devem ser escolhidas conforme o contexto e objetivos do estudo, sempre respeitando os aspectos éticos envolvidos. A flexibilidade e o envolvimento ativo do pesquisador são essenciais para o sucesso da pesquisa e a implementação das mudanças assistenciais propostas.

Espaço Físico da Pesquisa

Mesmo que o pesquisador já esteja inserido no ambiente onde a pesquisa será conduzida, é essencial descrever detalhadamente os elementos relevantes para o estudo. Isso ajuda a evidenciar a necessidade de mudanças naquele cenário de prática. A PCA pode ser realizada em diversos ambientes de atuação da enfermagem, como hospitais, unidades básicas de saúde, secretarias de saúde, instituições de ensino, centros comunitários, entre outros. Qualquer cenário que permita a atuação da enfermagem à saúde, seja preventiva, curativa, restaurativa, educacional, gerencial ou promocional, pode ser considerado.

Participantes da Pesquisa

Os participantes incluem tanto os profissionais atuantes quanto as pessoas atendidas no contexto de pesquisa. A definição dos participantes em uma PCA não segue critérios rígidos, mas sim o contexto social e prático a ser inovado. Como a PCA é considerado de forma geral uma pesquisa qualitativa, salvo em situações especiais, o foco não é a generalização dos resultados, mas sim a profundidade e a diversidade das informações coletadas, caracterizando-se por envolver diretamente aqueles envolvidos com o problema identificado na Fase de Concepção.

Negociação da Proposta

A negociação começa na Fase de Concepção e se estende até a formalização com os participantes e gestores. É fundamental que o pesquisador esteja preparado para negociar, ouvindo e incorporando sugestões dos envolvidos. A negociação deve ser contínua, permitindo ajustes ao projeto à medida que novos participantes ou mudanças sejam necessários. O objetivo é assegurar o comprometimento dos envolvidos com as mudanças propostas.

Coleta de Dados

Na PCA, o princípio da imersibilidade é fundamental, pois o pesquisador deve se envolver completamente no espaço de prática assistencial, agindo como parte integrante para promover mudanças compartilhadas. A coleta de dados ocorre simultaneamente à assistência, tornando o processo assistencial, o contexto do qual as informações emergem. As técnicas que podem ser utilizadas na PCA são as adotas em outras modalidades de pesquisa qualitativa, tais como: autorrelatos, entrevistas abertas, entrevistas semiestruturadas, grupos focais, observação em suas diferentes modalidades, podendo incluir também técnicas de pesquisa quantitativa como medidas biofisiológicas e questionários.

No entanto, a PCA criou duas diferentes formas de realizar a coleta de dados que são adequadas à sua metodologia: entrevista conversação e grupo de convergência.

Entrevista-Conversação

A entrevista-conversação é um tipo de entrevista aberta e informal, realizada durante a prática assistencial. Ela permite ao pesquisador captar dados valiosos em um ambiente descontraído, onde o participante se sente à vontade para compartilhar suas perspectivas e experiências. O pesquisador deve ser capaz de distinguir os dados de assistência dos de pesquisa para análise posterior.

Observação

A observação, especialmente a observação participante, é uma técnica essencial na PCA. Permite ao pesquisador envolver-se diretamente no campo de pesquisa, compreendendo os fenômenos em seu contexto natural. A participação pode variar de moderada a completa, dependendo do nível de envolvimento necessário para a coleta de dados.

Grupos de Convergência

Os Grupos de Convergência são uma técnica específica da PCA, onde pesquisa e prática assistencial ocorrem simultaneamente. Utilizados para educação em saúde ou prática clínica, esses grupos são formados com um número limitado de participantes (até 12) para garantir a efetividade da coleta de dados e das atividades assistenciais. A condução desses grupos requer habilidades específicas, como comunicação eficaz, empatia, e capacidade de síntese.

Sugerimos uma organização específica denominada de “4 erres

4 Erres do Grupo de Convergência
Reconhecimento

Esta fase inicia com o primeiro encontro do grupo, onde os participantes se interessam em conhecer seus pares e a finalidade dos encontros. A partir desse reconhecimento, as relações do grupo se intensificam. O diálogo participativo constitui a melhor estratégia para alcançar a coesão do grupo.

Revelação

Os participantes se identificam com seus pares por meio das experiências em comum relacionadas aos objetivos dos encontros. Assim, eles se sentem confiantes para revelar experiências passadas em relação ao tema em discussão.

Repartir

Há uma troca de experiências entre o grupo, estabelecendo condições para a tomada de decisões compartilhadas referentes ao propósito dos encontros.

Repensar

Se caracteriza pela reflexão sobre as implicações do problema em questão e a possibilidade de propor novas alternativas, construir novas práticas, e transferir o que foi compartilhado e aprendido para a prática assistencial.

A prática assistencial está presente em todas as fases desse processo, mas é principalmente na Fase do Repartir que o grupo confirma ser um instrumento possível para a prática do cuidado e o cuidado de si. Na Fase da Revelação, informações são compartilhadas para o reconhecimento da estrutura social e cultural do grupo.

Dessa forma, tudo o que está relacionado a essa fase se conecta aos temas discutidos, emergentes do grupo, e serve de base para o planejamento e a execução das ações e decisões de enfermagem/saúde, desenvolvendo um cuidado cultural coerente.

O método de grupos de convergência na PCA vem sendo utilizado com sucesso em diferentes estudos (COELHO et al., 2018; GOES, POLARO, GONÇALVES, 2016; PAULA et al., 2018; PIVOTO et al., 2010). Para isso, o pesquisador precisa desenvolver habilidades apropriadas e organizar a forma de registro das informações obtidas durante o processo.

A convergência entre assistência e pesquisa em grupo requer ações difíceis de serem desenvolvidas simultaneamente por um único pesquisador. Portanto, é prudente que o pesquisador providencie um auxiliar para anotar as discussões, depoimentos e informações relacionadas à prática assistencial, pois essas atividades são conduzidas de imediato ao grupo.

Reforçamos que a PCA não descarta a possibilidade de utilização de métodos inerentes às abordagens quantitativas. Neste caso, utilizam-se questionários estruturados e/ou semiestruturados, bem como escalas psicométricas. No entanto, a maioria dos problemas de pesquisa em PCA raramente requer questionários estruturados para a coleta de dados.

Quando utilizados, geralmente servem para avaliar as mudanças ou inovações introduzidas na prática assistencial durante a pesquisa. O modelo de questionário ou escala dependerá do tipo de dados necessários.